VAMOS REDUZIR A NOSSA PEGADA HUMANA!..........
VAMOS COMER OS PRODUTOS SÓ NA ÉPOCA EM QUE SÃO PRODUZIDOS !..............................................
VAMOS TODOS SEPARAR O LIXO E FAZER A RECICLAGEM!

sábado, 22 de agosto de 2015

Sementes de majericão

Já recolhi as primeiras sementes de manjericão, tenho mais que estão numa fase ainda verde...
 ...Aqui na foto bastante aumentada,

 ... Aqui ainda no ramo seco.
 ... Este de cima ainda está verde, precisa de mais umas semanas até ser possível colher.
Neste vaso, que está dentro de casa, não vai ser possível colher sementes, as abelhas não entram aqui.
Este vai continuar a dar folhas para temperar a comida quase até ao Natal, pelo menos tem sido assim todos os anos...

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Luísa e os Óricamos

escrevi este conto antes da minha neta Luísa nascer, não sabia que ia ter outra neta nem como se chamaria... calhou bem!


Luísa e os Óricamos
 Luísa gostava muito de correr, ia sempre para os trilhos da floresta, nunca ia acompanhada, gostava de correr livremente, de sentir a natureza em seu redor, gostava dos sons e do verde. Corria sem compromissos nem horas marcadas, decidia ir e ia sozinha, quase sempre de madrugada, antes de todos, antes das bicicletas e dos caminhantes que habitualmente frequentavam aquela zona.
Num dia muito bonito mas com muito frio, ela entrou num trilho bastante fechado.
Na primavera a floresta enche-se de folhas, flores e ramos novos, os arbustos e as árvores que no outono e no inverno ficam praticamente despidos, na primavera ficam muito densos e farfalhudos, tapando quase por completo os trilhos que ela conhecia. 
Luísa não se intimidava, não tinha medo de nada, era muito corajosa e atrevida.
  Ora, acontece que na floresta há muitas coisas para além de árvores, arbustos e flores, tem também muitos outros seres vivos. 
A vida na natureza é muito diversificada, tem de tudo um pouco: sardaniscas, sardões, salamandras, camaleões, sapos e rãs. Esquilos, coelhos, ratos e ratazanas. Ouriços e até morcegos, tem gatos e cães abandonados. Tem muito mais: tem pássaros, borboletas, moscas e mosquitos. Tem abelhas, vespas e zangões. Tem libelinhas, gafanhotos e louva-a-deus e, tudo convive harmoniosamente, sem a interferência dos humanos.
Luísa estava habituada a tudo isto, aos sons e movimentos de toda esta vida natural. Agora para o que lhe apareceu pela frente, isso ela não estava preparada!
Luísa, é bom que se diga, era uma rapariga com muita imaginação. Costumava contar ao irmão mais novo histórias de animais imaginários e aventuras inventadas por ela mesma mas, isto era algo que ela nunca, por mais que imaginasse, podia prever. Era um ser muito estranho o que lhe barrou o caminho:
 - Quem és tu? Interpelou-a ele. Se é que se pode dizer ele, porque era uma criatura tão estranha que era difícil distinguir se era ele ou ela. Era um animal pequeno, tinha umas asas e uma cabeça de pássaro, contudo o corpo era o de um cão, ou será que era um carneiro?Luísa ficou a olhar para aquela criatura sem perceber o que era e ainda por cima falava.
 - Quem és tu? Perguntou de novo – Que fazes aqui no nosso mundo?
Ela ainda muito ofegante e admirada, respondeu atabalhoadamente: 
 - Quem sou eu? E tu quem és? Ou antes, o que és?
 - Sou o chefe dos Óricamos! Sou eu que mando nesta terra e tu que fazes aqui? Quem te deu autorização para andares por estes caminhos? Vocês os humanos são muito atrevidos e descuidados…
 - Corro, não viste que ia a correr? Eu gosto de correr e venho sempre para aqui, já há muito tempo e nunca te tinha visto, de onde vieste? Que queres comigo agora? 
 - Ultimamente temos patrulhado mais vezes a floresta, para prevenir os acidentes, os incêndios e os crimes de uma maneira geral. Há muitas coisas a acontecer por aqui e nós temos responsabilidades para com a natureza.
Luísa estava estupefacta, não conseguia tirar os olhos daquela criatura estranha, uma mistura de pássaro, cão, carneiro e falava, isso era o mais estranho.
 - Tudo bem mas diga-me uma coisa, porque me parou? Porque está a falar comigo? Acha que sou uma criminosa?
 - Não! De todo, não, Nós conhecemos bem os criminosos! Só queremos garantir um espaço para nós e neste momento quase estamos sem ele, as bicicletas e os atletas têm feito tantos trilhos, que ocupam quase todo o território que antes era só nosso, estamos a ficar bastante limitados.
 - Não sabia que havia criaturas assim! Disse Luísa mirando-o de cima a baixo – O que és tu?
 - Sou um Óricamo! Já te disse, nem toda a gente nos consegue ver. Somos mais ou menos transparentes, só ficamos visíveis em situações limite e com pessoas de confiança. Neste caso específico tu precisaste de mim, por isso me estás a ver….
 - Eu precisava de ti? Ela riu.
 - Porquê? Eu ia aqui muito bem a correr, vens tu interrompes-me e eu é que precisava de ti? Ora essa!
Luísa entretanto ouviu outra voz.
 - Vamos embora antes que ela acorde!
 - Não! É perigoso deixa-la aqui sozinha, pode aparecer algum animal ou alguém que se aproveite e lhe faça mal. Ela é uma das pessoas de confiança! É daquelas pessoas que podemos e devemos ajudar. Temos que cuidar dela e tentar leva-la para perto da estrada de modo a que alguém em quem nós confiamos a veja e a ajude.
Luísa virou-se e viu mais criaturas parecidas com a primeira, eram duas e atrás estavam mais:
 - Afinal que é que se passa? Não estou a entender, que querem de mim?
 - Estás a ver? Além do mais é mal-agradecida. Dizia outra criatura. Era muito difícil descreve-la, tinha rosto de esquilo, mãos humanas, patas de coelho e o corpo como o de um cão quando fica assente nas patas traseiras…
 - Não importa, pega aí no telemóvel dela e marca o 112. Não podemos correr o risco de ela acordar.
Luísa estava furibunda! Estes coelhos, cães, pássaros, com rabos de serpente e cara de esquilos, estavam a começar a passar das marcas, deu um grito.
 – Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui, ninguém mexe no telemóvel e deixem-me seguir!
Apesar de ninguém estar a impedi-la de continuar a verdade é que Luísa não conseguia mexer-se. Por alguma razão estranha aqueles seres olhavam para ela com ar de preocupação verdadeira. Ficou ali a olhar para eles, enquanto um deles que tinha uma cabeça de cão, asas como um pássaro, um corpo, pequeno é verdade mas, parecido com o de uma pessoa, tentava marcar o número de emergência. Quando alguém atendeu do outro lado ele com a vós da Luísa só disse:
 – Ajudem-me, estou na floresta perto do cruzamento no acesso do lado sul. Depois pôs o telemóvel na mão de Luísa e disse para os outros:
 - Pronto, já podemos ir! O chefe dos Óricamos estava calmo!
 - Temos tempo! Não a podemos deixar aqui, não vamos deixa-la sozinha, pode acontecer alguma coisa.
 - Explique-me o que se passa por favor, suplicou LuísaEla estava a começar a entender que alguma coisa tinha acontecido, alguma coisa da qual não se apercebeu mas, o quê?
 - Caíste! Tropeçaste naquela raiz ali e bateste com a cabeça nesta pedra. Por alguma razão perdeste os sentidos e ainda não recuperaste. Já estás há muito tempo assim e isso para qualquer ser vivo não é nada bom e pode ser muito grave. Além do mais está muito frio, por isso tivemos que intervir se não ainda podias morrer aqui! Fica tranquila que o Tareco já está a tentar reanimar-te, não podíamos deixar-te aqui sozinha e assim caída sem sentidos! Vai correr tudo bem, vais ver.
 Luísa não entendia nada! Estava ali de pé junto daquelas criaturas, a falar com elas e elas diziam que estava caída sem sentidos? Que situação mais estranha. O chefe dos Óricamos apontou com o dedinho para um sítio atrás de si. Quando ela se virou viu-se a si própria caída no chão inanimada e com um fio de sangue a sair de uma têmpora. Ficou abismada debruçou-se sobre si própria e ficou ali a olhar para aquele pequeno ser estranho, com cara e cabeça de esquilo mas com Patas e corpo de cão a fazer exercícios em cima do seu peito e a fazer respiração pela sua boca, enquanto um outro lhe tapava o nariz, era uma situação deveras embaraçosa.
 O peso do pequeno ser não era suficiente para fazer o peito baixar de modo a massajar o coração. O Chefe dos Óricamos saltou para cima do peito de Luísa e chamou mais outros, que começaram a saltar todos ao mesmo tempo, enquanto um deles fazia a contagem. Mais uma vez o menino com cara e cabeça de esquilo lhe soprou pela boca enquanto o outro lhe tapava o nariz.
 De súbito Luísa deixou de ver, ficou tudo escuro. Tentou mexer-se mas doía-lhe a cabeça. Tentou levantar-se mas não conseguiu! Olhou em volta não viu ninguém, só se ouviam os pássaros e os barulhos normais da floresta, respirou fundo! Pelo menos estava viva, mexeu os pés e as mãos, também não estava paralisada, virou-se de lado e tentou erguer-se devagar. Ao fim de algum tempo e com esforço conseguiu sentar-se, doía-lhe o peito mas de resto sentia-se bem. Tinha um grande alto na cabeça junto à têmpora, levou a mão ao sítio e tinha sangue, não era muito, não era grave. Depois lembrou-se do telemóvel, onde estaria? Não o conseguiu encontrar na bolsa, devia estar no chão perto do sitio onde estava a sua mão antes de se levantar. Lá estava ele, ainda ligado para o 112. Afinal não tinha sonhado, tinha mesmo acontecido tudo. Olhou em volta a ver se via as criaturas mas, não viu nada, chamou.
 - Óricamos! Óricamos! Onde estão vocês? Apareçam por favor, só quero agradecer, nunca vou esquecer o que fizeram por mim, apareçam! Quero vê-los mais uma vez. Começou a ouvir o toque de uma ambulância. Dirigiu-se lentamente para a saída da floresta quando viu dois paramédicos a avançar pelo trilho com uma maca.
 - Bom dia menina, recebemos uma chamada de socorro foi você?
 - Parece que sim! Eu devo ter caído e perdi os sentidos mas, já passou descul…. Luísa caiu inanimada! Os paramédicos socorreram-na imediatamente e levaram-na para o hospital. Tinha um pequeno traumatismo craniano, quando acordou estava numa sala toda branca, com um médico de bata também branca que olhava para ela a sorrir, enquanto lhe pegava no pulso.
 - Já passou! Não se preocupe que não é nada grave. Disse ele muito simpático
 - Agora só tem que descansar.
 - Afinal o que foi que me aconteceu?
 - Deve ter caído e bateu com a cabeça, fez um pequeno traumatismo craniano. Já fizemos todos os exames agora vamos aguardar para ver se está tudo bem. Se nas próximas horas não se sentir enjoada ou vomitar é porque está tudo bem, de qualquer maneira tem mesmo que repousar. Como se sente?
 - Muito confusa doutor, se não fossem aqueles animaizinhos estranhos, eu teria morrido ali pois ninguém me iria encontrar.
 - Animais? O médico puxou uma cadeira e sentou-se à cabeceira de Luísa 
 – Que animais? Conte-me lá!
 - Os que chamaram o 112. Os que me fizeram a reanimação, que me salvaram a vida.
 - Realmente, verificámos que alguém lhe fez a reanimação, tem umas nódoas negras no peito mas, não foi o pessoal da ambulância?
 - Não doutor, quando a ambulância chegou eu já estava de pé, só que depois acho que voltei a cair.
 - Então, conte lá do que se lembra! Disse o médico com muita calma. Luísa começou a relatar todos os acontecimentos, contou do especto dos Óricamos, do telefonema para o 112, da reanimação, da chegada dos paramédicos, sem nunca ser interrompida, o médico deixou-a falar à vontade, quando acabou ele olhou para ela e com muita calma disse:
 - Muito bem! Acho que está com uma amnésia fantasiosa! Isso vai passar dentro de um ou dois dias mas não se preocupe que é normal acontecer a pessoas que têm traumatismo craniano. É uma glândula que existe na massa encefálica, que gera imagens e que faz com que as pessoas sonhem acontecimentos estranhos, agora descanse e tente dormir. Abriu um pouco mais do líquido que estava a correr por um tubinho diretamente para a veia do braço de Luísa e saiu.
 Acontece que Luísa não era uma pessoa fácil de convencer. Ela sabia bem o que tinha visto e ouvido. Sabia que havia alguma coisa lá bem no meio da floresta e tinha que tirar aquela história a limpo. Não era um médico com explicações sobre glândulas e massas encefálicas que a iam convencer de que não tinha visto nada… Por agora o melhor era ficar calada, para não pensarem que estava maluca.
 No dia seguinte, depois de uma noite descansada, quando acordou sentiu-se muito bem apesar de se lembrar exactamente de tudo. Quando o médico chegou, cumprimentou-a e perguntou.
 - Então? Como se sente? Lembra de alguma coisa estranha que lhe tenha acontecido? 
 - Não! Que foi que aconteceu? Eu estou muito bem, só acho que já estou aqui há séculos, acha que já me pode mandar embora?
 - Ainda não! Disse o médico. - Gostava de lhe fazer mais uns testes a ver se a amnésia já passou. Diga-me cá ainda se lembra dos animais estranhos que viu na floresta?
Luísa era uma rapariga muito esperta, olhou para o médico com os olhos muito abertos e perguntou:
 - Quais animais estranhos? De que é que está a falar Sr. doutor?
 - De nada minha querida, de nada! Disse o médico.
 - Ainda bem que já está restabelecida e pronta para sair desta cama.
 Na semana seguinte Luísa foi de novo correr para a floresta como sempre fazia. Quando ia a passar perto da zona onde tinha caído, fingiu que tropeçava e deitou-se no chão com a cara para baixo e ficou ali muito quieta. O tempo passou e não aconteceu nada, esperou uns dez minutos e nada. Levantou-se e voltou a correr por um outro trilho mais denso, onde havia um carvalho enorme e umas pedras grandes. Fez de novo a simulação de queda e voltou a ficar muito quieta com a cara para baixo, como se estivesse caída e inanimada… De súbito ouviu um restolhar de folhas e ficou atenta, algo lhe tocou na cara. Ela não se mexeu, depois ouviu uma voz:
 - Está desmaiada!
 - Não pode ser! Disse outra voz
 – Não outra vez, que falta de cuidado tem esta rapariga. A voz que falou de novo era bem conhecida, falou alto e claro que falou para ela:
 - Deixa-te de fingimentos, as coisas não funcionam assim, faz favor de te levantares! Luiza deu um salto e gritou:
 - Eu sabia! Eu sabia!
 - És muito atrevida! Disse o chefe dos Óricamos.
 - Eu sabia que não era amnésia, nem invenção minha! Eu tinha a certeza que vocês existiam e que me tinham salvado a vida.
 - Cala-te! Gritou-lhe ele – Não vês que ninguém pode saber da nossa existência? Será que não percebes que as pessoas não estão preparadas para nos verem? Nós sempre existimos e nunca, nunca nos demos a conhecer, os seres humanos não iam entender.
 - Mas eu vi-vos! Disse Luísa – Eu vi-vos e vocês ajudaram-me e salvaram a minha vida, como vamos fazer para eu esquecer? Eu não quero esquece-los, eu adorei conhece-los! Vocês salvaram a minha vida, se não fossem vocês eu poderia estar morta a esta hora, eu preciso agradecer e dizer a toda a gente os seres maravilhosos que vocês são!
 Luísa quase chorou, ficou emocionada e desolada, então não poderia nunca falar disto? Era muito injusto para com estas criaturas maravilhosas, não podia falar e contar a toda a gente o que lhe aconteceu? A maneira como a ajudaram?… Então o chefe dos Óricamos cheio de calma falou de um jeito e com uma voz estranha que fez com que Luísa entendesse:
 - A literatura, a arte, o cinema, o teatro, estão cheias de histórias sobre nós, sobre criaturas maravilhosas como tu nos chamas. Mas são histórias lindas de fantasia, com duendes, fadas, bruxas, e tantos, tantas outras personagens. Histórias que tu própria já deves ter lido. Então podes sempre escrever, contar histórias sobre nós mas, sempre como num sonho, numa amnésia fantasiosa, ou o que quiseres chamar-lhe. Só que nunca vamos aparecer ou mostrar-nos, porque nunca o fizemos nem nunca o faremos e se te pões para aí a falar de nós a toda a gente, ainda dizem que estás louca e metem-te numa instituição para gente maluca, pensa bem!
Luísa ficou ali muito tempo a conversar com aquelas criaturas estranhas. Ficou a conhecer melhor cada um deles. Ficou a saber que já na Grécia Antiga se escreveu sobre eles, que no Egipto também eles ajudaram e acabaram por ficar nas histórias. O mundo está cheio de figuras mitológicas, desde de tempos imemoriais, só que sempre como imaginação dos homens e nunca como uma coisa real. Também ela agora pertencia a esse mundo, como o da fénix, do minotauro, dos dragões, que sempre são apresentados como gigantes lutadores e não como criaturas frágeis.
 Tudo na natureza é importante! Tudo tem o seu lugar e a sua função, seja animal ou vegetal, nada é deixado ao acaso por mais estranho que pareça. Se existe é porque faz parte de um todo, que é o planeta ou o próprio universo.
 Cabe a nós humanos, seres pensantes, cuidar e zelar pela natureza porque fazemos parte dela e se cuidarmos bem da natureza ela cuidará bem de nós.
 Luísa continuou a ir correr para a floresta como sempre fez. Continuou a ser como sempre foi, cuidadosa. Apanhava lixo se houvesse e levava-o para os caixotes, que havia espalhados por todo o lado. Foi assim durante anos e anos e anos …

                               FIM
Lisboa, 15 de Dezembro de 2013